Quem nos acompanha desde o início sabe que o Moochacho já se aventurou em algumas unidades ao longo dos anos, desde que abrimos a matriz na Trindade em Março de 2016
Além das lojas menores no Centro e de Campinas, talvez a que inspire mais nostalgia seja aquela que foi nosso primeiro projeto de expansão: o Moochacho Coqueiros, no Continente.
Inauguramos a nossa 'casa de praia' oficialmente em Novembro de 2018 e Fechamos as portas pouco tempo depois, em julho de 2019, deixando muita gente sem entender os motivos do encerramento precoce.
Afinal, o que deu errado? Por que não seguraram um pouco mais?
Calma que vamos abrir o jogo ao longo do artigo, mas para contar essa história direito vamos partir do início.
Caminhando com as próprias pernas
O Moochacho nasceu com a proposta de trazer uma experiência de comida mexicana diferente. Inspirados nas pequenas taquerías da California, nossa ideia era incorporar a simplicidade como filosofia de negócio.
Nenhum dos fundadores (Ander, Artur e Gui) tinha grana ou experiência no ramo de restaurantes, então começar pequeno foi não apenas uma escolha, mas uma necessidade.
Pra quem é da tecnologia e acostumado com o famigerado MVP ('Produto Mínimo Viável', em tradução do inglês) saiba que foi exatamente o espírito. O planejamento rascunhado pela manhã era posto em prática à noite e sofria todos os dias pequenos ajustes com base no que íamos aprendendo.
Com o passar do tempo fomos estabilizando a operação e conseguimos trocar a chapa pela mesa de reunião para planejar os próximos passos do negócio com a grana que estava começando a sobrar na conta.
Todo negócio precisa crescer! ... será?
Habita o imaginário do empreendedor a ideia de que crescimento é sinônimo de progresso e com a gente não foi diferente.
O (relativo) sucesso da loja da Trindade aliada a uma enxurrada de pedidos de clientes semearam a ideia de que uma expansão para o Continente era não só uma oportunidade, mas um passo obrigatório para consolidar a marca.
Coqueiros foi uma escolha fácil.
A mística da via gastronômica e o cheirinho de maresia nos fisgaram até uma casa recém construída por um ex-dono de restaurante que havia desistido dos planos de montar uma operação ali.
Pensa na combinação: galera querendo + localização privilegiada + vista para o mar e me responde, tinha como dar errado?
A gente (e muita gente) achava que não, mas deu e já começou mesmo antes de abrirmos as portas.
Como nada na vida é tão simples quanto pareça ser, você vai conhecer na sequência a lista dos principais fatores que, na nossa visão, contribuíram para que a unidade virasse material de #TBT.
Fator 1 - Gastos além do prudente para abertura
Ao contrário da Trindade, onde fizemos tudo por conta, não nos sentimos em condições e nem teríamos tempo de montar o restaurante de Coqueiros sozinhos, o que nos levou a contratar uma arquiteta para pensar o projeto, indicar e acompanhar os profissionais durante a obra.
Quem conheceu o espaço sabe que ele era bem grande o que, logicamente, demandou muito material e meses de mão-de-obra contratada para cumprir à risca o projeto.
O resultado foi um orçamento que extrapolou em muito a nossa realidade e que mesmo (muito) enxugado, consumiu nossas reservas e boa parte do capital que levantamos com linhas de crédito para a reforma não parar.
Fator 1I - Gastos imprevistos consertando cagadas
Toda obra é uma caixa de Pandora com a esperança de que os serviços fiquem dentro do prazo e dos padrões de qualidade contratados.
No nosso caso é difícil apontar algo que tenha dado 100% certo.
Cimento queimado do chão rachando por falha na aplicação, cordas decorativas na escada despencando por falha na sustentação e toda a fiação elétrica da cozinha danificada por um forro mal colocado a poucos dias de abertura são só alguns dos pesadelos que enfrentamos mesmo antes de receber o primeiro cliente.
Fator 1II - Falta de fluxo de caixa
Não sou consultor financeiro, mas arrisco dizer que a grande maioria dos negócios morrem porque costumam pensar só na grana necessária pra abrir e não na grana necessária para manter aberto, principalmente no início.
Quando você começa do zero não há como garantir fluxo de vendas para gerar receita e pagar as contas (fixas, fornecedores e imprevistos como os do tópico de cima) e a bola de neve aumenta rápido se não arranjar de onde tirar capital.
No nosso caso quase todo o recurso foi sugado nos pontos anteriores e nos restou torcer para que o volume de vendas acompanhasse a popularidade da casa da Trindade.
(spoiler: não acompanharam 😂, e os motivos você descobre abaixo).
Fator 1V - Problemas com a localização
Coqueiros é mesmo um lugar incrível, mas a realidade é que há vários bairros dentro de um.
Se formos dividir em três porções - uma próxima da ponte, outra central e outra mais pro final - podemos considerar as duas últimas como as "zonas quentes" para se abrir um restaurante.
O nosso ponto ficava no terceiro - que tecnicamente é Itaguaçu e não Coqueiros, mas tudo bem. Ao contrário da parte central que tem uma pegada mais "moderna", essa ponta concentra a maioria dos restaurantes mais tradicionais (como o Rancho Açoriano e o Recanto das Pedras) e costuma receber um público que acompanha essa característica.
A gente curte demais atender pessoas de todas as idades, mas como você deve ter percebido toda a linguagem e proposta do Moochacho comunica mais fácil com a galera mais jovem, pela nossa própria vivência refletida nos elementos da experiência.
O resultado foi bastante dificuldade para fidelizar (quem já não era fiel) e um perfil de consumo completamente diferente do que estávamos habituados.
(uma prova disso é que, ao contrário da Trindade, as Pilsen e as long Necks vendiam muito mais do que as APAs e as IPAs 😂).
Fator V - Fluxo desequilibrado ao longo da semana
Além da localização outro problema que enfrentamos foi a distribuição do fluxo de pessoas no bairro ao longo da semana.
Na Trindade desde o início conseguimos manter uma média constante de clientes - principalmente pela movimentação da UFSC e a grande quantidade de empresas no entorno.
Já em Coqueiros sobrevivemos basicamente dos finais de semana, quando a natureza não lançava um dos seus elementos surpresa..
Fator VI - (Má) influência do clima
Não sei se você já tentou caminhar por Coqueiros em um dia chuvoso e com vento, mas asseguro de antemão que não é das melhores experiências.
A parte favorita do restaurante - o mezanino que montamos na parte superior - ficava completamente intutilizado em dias de mau tempo e como as plataformas de delivery ainda estavam engatinhando na época, a dobradinha chuva e vento suli eram prejuízo na certa.
Fator VII - Pouca maturidade empresarial.
Gerir um restaurante já é uma tarefa extremamente complexa agora imagina dobrar o quadro, a produção e os demais processos quase da noite para o dia?
Estávamos completamente adaptados a uma realidade de operação na Trindade que não conseguimos replicar em Coqueiros e a empresa estava longe de madura para garantir que ambas as experiências rodassem da mesma forma.
Passamos bastante tempo batendo cabeça, com certeza falhamos muito com ambas as equipes e todos esses fatores contribuíram para que chegássemos ao último e não menos importante fator.
Fator VIII - Esgotamento mental e físico.
É bem mais fácil manter a motivação quando as coisas dão certo, mas quando os resultados não vêm, as contas não param de chegar e as expectativas (altas) são frustradas a queda é inevitável.
As horas dobradas para conseguir dar conta de tudo também cobraram um preço alto e nos vimos forçados a tomar uma decisão: ou continuar dando murro na ponta de faca na expectativa que as coisas milagrosamente melhorassem ou estancar a sangria e voltar a concentrar as forças onde sempre conseguimos entregar o nosso melhor.
A resposta para o dilema você ´já conhece pelo desfecho e mesmo com tudo que custou consideramos que o "fracasso" nos ensinou muito mais que tirou.
e o futuro?
O Moochacho é o nosso projeto de vida e continuamos firmes na missão de elevar o burritão ao lugar de popularidade que merece. Graças ao apoio de vocês e a todos os que passaram pelas nossas equipes continuamos aqui, muito mais calejados e preparados para o que o futuro nos reserva.
Vida longa ao Moocha!
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